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sábado, 27 de junho de 2009

Silêncio



"Silêncio"

Barbaria d'sentimento
Que tens tu comigo?
És fiel injúria
És o meu lamento
És minha tortura
Não me deixa, amigo.

Inquieta o coração
Me deixa falar
Me abraça co'amor
Traga a inspiração
Por me ter senhor
Não me deixa falhar.

Dê cá um papel
Um pouco de tinta
Um belo corcel
E amor pra que sinta

Vamos minha Marília
Por tua e minha vida

{Hudson Maciel Oliveira}

Fiz pro meu amor... "minha Marília"

Todos os direitos reservados à Hudson Maciel de Oliveira, 17 de maio de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

Saudade...



Saudade

Ele se sentou a cadeira em frente a máquina de datilografar. Começou a lembrar de cenas passadas que percorriam sua memória agora perturbada. A noite lhe trazia tanta paz. Enquanto chovia do lado de fora, era ele um contador de histórias.
- Romeu e Julieta? Não, é algo muito melancólico e... afinal é triste. Não serve para mim...
- Mas que inspiração? meu corpo suplica ao papel palavras, mas minhas mãos não reagem, talvez por não conseguir organizar as idéias...
Os Calafrios tomavam conta do seu corpo totalmente coberto por lã. Pela toca na cabeça, as luvas petróleo, a calça azul marinho e o casaco vermelho vinho da cor de suas afeições atônitas no instante.
Era como se buscasse algo que a qualquer hora fosse chegar e não chegava... Esperava... e Nada! não chegava nunca. A luz pouca para o enorme salão que se estendia, tornara clara sua expressão vazia e perturbada. O salão respondia com um eco a cada digitação feita pelos dedos trêmulos e incertos.
"Tomou conta da mente, tornou ofegante a respiração, tomou conta do coração". Lembrava de versos de algum poeta, vagava entre pensamentos de um e de outro, mas nenhum lhe esclarecia nada! nenhuma luz. Uma agonia com começo meio... Procurava com as mãos aquele rosto no seu e com as mãos sobre a boca procurava aquele beijo, um beijo calmo, mas que causava euforia - e que controle tem o homem sobre si? - voltava com a mão ao coração e já não sentia mais um; eram dois, batendo ora de forma desordenada ora em perfeita sincronia. A música ao fundo, cantada em francês, tornava as imagens e as sensações cada vez mais próximas e mais reais. Uma mistura de "Ne me quite pas" com um quê brasileiro, devia estar sendo cantada por alguma cantora nacional já que o sotaque era diferente e a expressão um tanto quanto exaustiva e sofrida.
Entre beijos, um abraço calmo tornando-se seguro e apertado, com tanta força! Era como se nunca mais quisesse se desfazer, prendendo cada vez mais para que nada tenha força suficiente para romper. As imagens passavam cada vez mais rápido, e enquanto sorria-se, formavam-se lágrimas contidas nos olhos.
- Que faço? Ligo? E o que direi? Te amo? E que poderá ela fazer? Dizer que me ama?
- Mas que faço para parar esta sensação? Já sorri e me veio aquele sorriso sem igual; Já chorei e me veio aquelas mãos sobre meu cabelo, aqueles dedos sobre meu rosto e aquela voz ao ouvido, quase um sussurro: "- Está tudo bem?"; Se dormir... provavelmente sonhe e sonhar é sonhar por mais real, é sonhar.
De repente em fax lhe chega de subto:"A falta nos tira do controle a ponto de pensar em possibilidades não vistas no equilíbrio".
- Será a mesma sensação que ambos sentimos? É difícil de imaginar.
- Droga! disse batendo sobre a máquina de datilografia num acesso de agonia e raiva.
- Por que não se faz um fax de pessoas? Estaria lá em instantes ou ela cá em um segundo!
O papel ia tornando-se vermelho, lembrou-se do sábio Quintana como numa inspiração ou desânimo:"O amor é um beijo no espelho". A mesa de madeira velha e escura ia ficando pastosa aos poucos; As teclas da máquina iam se tornando mais duras e de vez em quando prendiam-lhe o dedo nos espaçamentos; As letras se sumiam entre o vermelho - "Trim!" - alinha havia chegado ao final, era o aviso da máquina que rompia o silêncio em um eco tão forte quebrando o êxtase do momento. Caíam, já, gotas sobre o chão a formar uma pequena poça.
- Droga! droga! droga! Como dói!
- Isso é que dá trabalhar com máquina velha!
A máquina de datilografia cai sobre o chão empurrada fortemente de sobre a mesa, como por um impulso diante dor, despedaçando-se. Já não se sabia onde ficava cada letra tão pouco as idéias.
- Que droga! "A saudade é uma pancada sobre a máquina de datilografia"
- Não tenho nada para curativo... Que me importa? deixa sangrar, ao menos passaram, pela dor, as lembranças e flashes que me perturbavam.
- Que bem me faz estas sensações! O coração não se acalma, a máquina quebrou, o sangue mina da minha mão direita, nada sinto além da dor que não sentia até o aviso da página...
- Meu Deus! Quantas horas são? Ah não! Cinco da madrugada? Não acredito! O jornal abre às sete horas e não tenho nada pronto para a reflexão de amanhã.
- Se pudesse ao menos escrever! Mas com essa mão... E que adiantaria? Sem máquina de datilografia... Além de que a edição e a publicação demoram cerca de uma hora e meia...
- Que podermos fazer caro amigo? Disse ele ao fax, o único objeto que permanecera sobre a mesa.
No dia seguinte ao tomar café, às onze horas, viu um jornal pendurado entre a abertura da janela. Esticou-se para pegar com a mão direita cujo ferimento doeu-lhe fazendo-o lembrar da madrugada, como um sonho que vem à memória sem as devidas conexões. Esticou a mão esquerda e com muito esforço pegou o jornal. Ao abrir na reflexão encontra a seguinte frase:"A falta nos tira do controle a ponto de pensar em possibilidades não vistas no equilíbrio".
- Loucura! Que dor na mão! Que aperto no peito! Que vontade de abraçar as paredes!
Fechados os olhos, apertava fortemente a mão contra o peito, abriu os olhos e abraçava o vento segurando o jornal manchado de sangue.
Do fundo das mais profundas inquietações conseguiu um momento de sanidade e disse baixo, mas com voz firme, olhando para o céu com olhar esperançoso.
- Seriam sintomas? Se forem, qualquer que seja a doença, é você o tratamento...